Associações livres em L1 e L2

Com o apoio da FLUL, demos início em 2001, no âmbito do Laboratório de Psicolinguística, à planificação de um estudo sobre associação de palavras em Português Europeu (PE), a desenvolver ao longo de vários anos, em função da disponibilidade de alunos de graduação e de pós-graduação para integrar uma pequena equipa de elaboração de listas de palavras-estímulo e respectiva aplicação às populações-alvo, sujeitos nativos e não nativos do PE.

Durante muitos anos, em diversos países, a motivação para a realização de estudos de associações de palavras com base na recolha de grandes amostras partia do pressuposto de que as associações forneceriam informação directa sobre a forma como a memória semântica se encontraria estruturada, ou sobre a natureza dos processos cognitivos implicados.

Independentemente da evolução registada nos estudos mais recentes, é inegável que a relação de associação é um dos princípios básicos da aprendizagem e da memória em geral, e é um facto que alguns aspectos qualitativos da estrutura da memória semântica podem resultar de análises detalhadas de dados recolhidos em situações experimentais de associação de palavras e podem revelar relações de força de diferentes graus na organização individual das redes semânticas.

Contudo, sabe-se que a força associativa revela algo mais do que relações entre conceitos. Subjacente às associações ditas ‘fortes’, encontramos aspectos que derivam da frequência da palavra no contexto de uso de cada sujeito, bem como da co-ocorrência de pares de palavras, ‘combinatórias’ ou mesmo expressões mais ou menos ‘fixas’ na língua, a nível intra e intersintagmático.

Esta perspectiva permite considerar as palavras simultaneamente no plano semântico e sintagmático, estando frequentemente os pares mais fortemente associados ligados a expressões onde ambos os termos ocorrem. Estudos de corpora têm revelado que palavras associadas têm também uma probabilidade alta de co-ocorrerem (cf. Spence e Owens, 1990; Moss, Ostrin, Tyler e Marslen-Wilson, 1995).

Por outro lado, numa língua morfologicamente rica como é o caso do Português, os princípios condicionadores da associação entre palavras não podem deixar de considerar a estrutura morfológica do léxico como um dos factores a controlar na organização dos materiais a utilizar como estímulos e na operacionalização das experiências.

O CLUL tem realizado, ao longo dos últimos anos, trabalho rigoroso sobre combinatórias do PE, apontando para relações que produzem 'efeito de frequência' sobre os falantes e que convém comparar com o efeito produzido pelas associações fortes.

Parece-nos que, independentemente da capacidade das equipas de investigação virem progressivamente a alargar a amostra, disponibilizamos, desde já, as tabelas percentuais dadas por cem informantes.

Colaboraram na recolha e tratamento dos presentes dados Cláudia Pereira, Carla Taborda e Carla Viana.