Linguagens Fronteiriças: Mirandês

Concluído
Data
Instituição financiadora
Sem financiamento externo
IR do Projeto
Manuela Barros Ferreira

Apresentação do Mirandês:

O mirandês é uma língua minoritária falada no Nordeste de Portugal, num planalto de 500 km2 junto à (ex-) fronteira com Espanha desenhada pelo rio Douro. Historicamente, este idioma integra-se no domínio linguístico asturo-leonês, com o qual partilha uma série de traços fonéticos, resultantes de um longo período de comum evolução do latim. Entre eles é de sublinhar a palatalização de l- inicial em palavras patrimoniais de origem latina - fenómeno que não se encontra nem no domínio galego-português nem no castelhano. Constantemente submetido, por um lado, à pressão do português em todas as situações e, por outro, à crescente influência do espanhol no trato turístico- comercial, o mirandês foi preservado até hoje pela população agro-pastoril, com a individualidade que a história dessas influências lhe confere e que está patente em diversos traços que não existem no asturo-leonês - com destaque para o sistema de sibilantes.

Hoje em dia, segundo as últimas estimativas, é utilizado nessa área por seis ou sete mil pessoas. Sendo uma língua de tradição oral, foi o reconhecimento oficial dos seus direitos, em 1999, que lhe proporcionou um novo prestígio e lhe deu pleno direito a ocupar um espaço próprio na comunicação social e no ensino. A sua situação de língua em risco e a crescente integração das populações rurais nos circuitos do ensino e dos serviços modernos apontam um caminho para a sua preservação que se baseie, não só numa desejável reabilitação das condições de oralidade, mas também na capacidade da escrita para fixar a memória colectiva em suportes duradouros e acessíveis.

Tendo em vista este último objectivo, em 1994 o Centro de Linguística da Universidade de Lisboa constituiu uma equipa formada por linguistas e por locutores mirandeses a fim de iniciar a normatização linguística do mirandês ao nível do corpus, como etapa indispensável para se atingir o seu reconhecimento estatutário. Depois da publicação de uma Proposta de Convenção Ortográfica (1995), o Parlamento português reconheceu o direito dos falantes de mirandês a utilizarem a sua língua (1999) e, nesse mesmo ano, foi publicada uma versão mais completa da Convenção. O seu primeiro grande resultado está patente na multiplicação de publicações em mirandês que se verificou a partir do ano 2000 e no número de pessoas que hoje se interessam pelo estudo desta língua.

Dado que a elaboração da Convenção ficou muito longe de resolver todos os problemas levantados pela escrita, foi continuado o trabalho neste campo. Em 2001 foi instituída uma página ligada ao CLUL, com a vocação de ser um lugar para apresentação de novas propostas normatizadoras e de avanços da investigação, de fornecer informação básica sobre a língua e, através do Fórum, Blogger e e-mail, de manter um constante intercâmbio de informações entre os estudiosos da língua.

 

Trabalhos realizados pelo CLUL:

Anos 70-80:

Inquéritos na área dos dialectos asturo-leoneses falados em Portugal, para o Atlas Linguístico-Etnográfico de Portugal e Galiza.

1987

Participação nas "Primeiras Jornadas de Língua e Cultura Mirandesa" em Miranda do Douro.

Anos 90

Inquéritos em aldeias da antiga área leonesa vizinha (Saiago e Aliste), em Espanha.

1993

Organização do Encontro Regional da Associação Portuguesa de Linguística "Variação linguística no espaço, no tempo e na sociedade" em Miranda do Douro.

1995

Publicação de uma "Proposta de Convenção Ortográfica Mirandesa".

1999

Publicação da Convenção Ortográfica da Língua Mirandesa.

2000

Participação na Comissão Portuguesa para o Ano Europeu das Línguas, a fim de preparar a presença mirandesa nesta celebração. Levantamento das prioridades para a regulamentação e desenvolvimento da língua. Adopção de uma "Primeira Adenda" à Convenção Ortográfica, tendente a integrar o dialecto sendinês na escrita comum.

2001

Participação na celebração do Ano Europeu das Línguas com várias intervenções públicas. Leccionação de "Introdução ao Mirandês" (Primeira parte) no Primeiro Curso de Verão da Língua Mirandesa. Construção de um site exclusivamente dedicado à Língua Mirandesa.

2002

Publicação, no "Sítio de l Mirandés", de uma Segunda Adenda à Convenção Ortográfica para discussão pública. Intensificação da actividade de divulgação e de esclarecimento sobre diferentes aspectos da língua.

2003

Continuação da actividade anterior.